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Exposição Cem Anos Modernos, no MIS, percorre o labirinto aberto pela Semana de Arte Moderna de 1922

Mostra integra a celebração do centenário de 1922 do Governo do Estado de São Paulo, dentro da Agenda Tarsila; Exposição dinâmica revê um século de transformações na arte e cultura brasileiras, convidando que cada visitante defina seu próprio caminho por salas que levam a diferentes tipos de manifestações artísticas; Seleção de obras busca remontar 100 anos de rupturas e construções de uma arte não apenas antropofágica, mas também autofágica; exposição tem curadoria de Marcello Dantas e José Miguel Wisnik; Abertura ao público ocorre em 02/06 e os ingressos estão disponíveis em mis-sp.byinti.com

O que aconteceu naquele ano de 1922, em São Paulo, que ainda hoje é capaz de provocar debates construtivos e polêmicas acaloradas sobre arte, política, racismo, identidades e história do Brasil? Como podemos entender o papel de Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Villa-Lobos, entre outros, sem cairmos nos lugares-comuns dos mitos fundadores de um novo Brasil e sem acreditarmos na ilusão de que o tempo parou cem anos atrás?

A exposição Cem Anos Modernos, que estreia em 02/06 no Museu da Imagem e do Som (MIS), instituição da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, integra as celebrações do centenário do Governo do Estado de São Paulo, propondo uma leitura que não vê na Semana de 1922 o momento de criação de um Brasil moderno, mas sim como um momento de abertura de portas para a modernidade.

“A exposição Cem Anos Modernos foi pensada de forma lúdica e envolvente para o público, mas também possui um caráter pedagógico sobre o impacto do modernismo para a cultura brasileira. Esta iniciativa vai funcionar como uma espécie de fechamento com chave de ouro dos esforços empregados para celebrar o centenário deste movimento”, afirma o Secretário de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, Sérgio Sá Leitão.

Idealizada pelo curador Marcello Dantas e pelo compositor e crítico literário José Miguel Wisnik, a mostra aposta no caráter exploratório por um grande labirinto, em que um Brasil múltiplo, indomável, incoerente e por vezes contraditório vai se revelando. A ideia é convidar o público a explorar, em cada nova sala, essa vontade de ver e se apropriar de diferentes aspectos da cultura brasileira.

A mostra parte da concepção, articulada por José Miguel Wisnik, de que o movimento modernista vocalizou de maneira programática, com alarde exibicionista e provocador, questões que estavam em ebulição. São exemplos dessas questões a quebra dos tabus estéticos da representação da natureza, da linearidade sintática, da poesia metrificada, da consonância tonal em música – rupturas que marcariam a linguagem artística do século 20.

Elas se apresentam, por exemplo, em Galo ou abacaxi, pintura de Cícero Dias de 1940 em que o animal e a fruta se confundem numa tela amarela, mas também se materializam na imagem fotográfica do cantor Roberto Carlos recebendo um troféu do apresentador televisivo Chacrinha – sim, o famoso “Troféu Abacaxi”.

Diversidade de caminhos e leituras para os visitantes

Diferentemente do que é comum no circuito de grandes exposições, não há um caminho específico traçado para os visitantes: cada pessoa que entrar na mostra construirá sua própria saída, passando por diferentes salas, cada uma levando a novas galerias, até a chegada ao presente.  “Toda a história dessa exposição é sobre você se descobrir dentro desse labirinto. Duas pessoas não viverão a mesma exposição”, explica o curador Marcello Dantas.

Uma das obras pelas quais o visitante pode passar, dependendo do caminho que trilhar, é o filme Limite, de Mário Peixoto. Outra, o projeto e imagens das máscaras que Flávio de Carvalho imaginou para O bailado do Deus Morto, de 1933. Também em Flávio de Carvalho, desta vez de 1956, temos o desenho e a fotografia de seu Passeio de saia, acompanhado homens engravatados embasbacados com seu questionamento artístico à ordem heteronormativa.

Nem todas as portas levam a proposições positivas – uma das portas abre, por exemplo, uma sala para o integralismo, a versão verde-amarela do fascismo. A ideia é tratar, também, dos aspectos autoritários que entraram pela porta da modernidade. “A Semana de 1922 foi uma espécie de bomba de efeito retardado. Sem ser propriamente um espetáculo, ela explodiu aos poucos, revelando toda uma cultura brasileira que até então estava fora do circuito dominante”, complementa o curador.

As rupturas nas artes brasileiras ao longo de cem anos não se limitaram à literatura, às artes plásticas e à música erudita: também se fizeram imagens – no cinema –, sons – na música popular – e movimento – na dança, por exemplo –, atingindo também outros aspectos da vida cultural brasileira representados na exposição.

Diferentes portas se abrem no percurso do visitante – e a exposição aproveita essa metáfora e dá uma espécie de concretude a ela. O prédio do MIS, assim, se transforma em um labirinto de portas, que podem ser de um armário ou uma simples cortina, portas de geladeira, cadeia, giratória, pantográfica, eletrônica, que priorizam a vocação do espaço para a imagem e o som, oferecendo muita música e projeções audiovisuais.

“De certa forma isso é um pouco uma representação do que aconteceu em 22.  De repente, você tinha uma cultura ‘clássica’ no Brasil e aí meia dúzia de caras abriram umas portas e, depois disso, tudo começou a mudar”, completa Marcello Dantas, apontando que o elo comum a todas as obras que fazem parte do trajeto “são matrizes originais do Brasil”.

Nessa ciranda, surgem artistas que fizeram a cultura brasileira nos últimos cem anos, alguns deles contemporâneos nossos, como Anitta (não a Malfatti, pintora, mas a cantora), Elza Soares, Denise Stoklos, Emicida, Denilson Baniwa, passando também por Glauber Rocha, Ariano Suassuna e José Celso Martinez Corrêa. Numa sala do labirinto, o visitante assiste a trechos de Macunaíma, do cineasta Joaquim Pedro de Andrade, e uma das portas leva à obra da cenógrafa Bia Lessa.

 

Exposição propõe explorar – e celebrar – repercussões de 1922

Cem Anos Modernos não é uma exposição de artes visuais, é uma mostra que procura indicar como as ideias e reflexões do modernismo reverberaram na cultura brasileira nos últimos cem anos, com ênfase na música, no cinema e no teatro. Nesse caminho labiríntico, o visitante poderá reavaliar a identidade brasileira e a busca pela matriz indígena da cultura do país.

Assim, a Semana de 1922 não é vista como um marco que “redescobre o Brasil”, como se Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Villa-Lobos, entre outros, fossem novos Cabrais; nem como se a Semana de 1922 fosse um novo 22 de abril de 1500. “O Brasil teve um século pujantemente moderno nas artes visuais, na arquitetura, na música, na literatura, no pensamento, e isso é o que faz sentido celebrar”, diz o curador.

“Independentemente de quem tentou se apropriar, os Brasis conseguiram se manter originais dentro de suas territorialidades”, defende Marcello Dantas. “A cultura brasileira se revela fascinantemente não apenas antropofágica, mas também autofágica, capaz de regurgitar a si mesma além de qualquer outro que se apresente à sua frente”, completa. Nesse sentido, o visitante poderá estabelecer laços entre as missões de pesquisa organizadas por Mário de Andrade, para o registro de manifestações culturais populares nos anos 1930, e as obras, entre outros, do escritor Ariano Suassuna, autor de A pedra do Reino (1971), e Antônio Nóbrega e o Teatro Brincante.

Espaço Redondo contará com atrações para o público

Os diferentes percursos do labirinto de Cem Anos Modernos conduzem o visitante para um ambiente comum: o Espaço Redondo do MIS, onde será projetada, no amplo espaço circular com pé-direito alto, uma filmagem em 360 graus do Theatro Municipal de São Paulo. As paredes do Theatro, única testemunha “viva” dos acontecimentos da Semana de 1922, se transformam em uma obra própria, como no filme Amar Elo, de Emicida.

“Nesse filme, Emicida reivindicou o teatro, porque as mãos dos trabalhadores, em grande parte negra, nunca tinham pisado nele”, explica Dantas. “No fundo, estamos querendo dizer que a luta por essa busca de identidade é um processo absurdamente pertinente, ativo, e as tentativas de hoje em dia, como a Anitta, estão inclusas neste processo”, comenta o curador.

No Espaço Redondo do MIS, há um conteúdo original do projeto, com trilha composta por José Miguel Wisnik com Alê Siqueira e imagens de Leandro Lima. São cerca de 20 minutos com uma espécie de releitura de cem anos de arte brasileira, buscando resgatar a potência da cultura brasileira e de seus criadores. A visitação simultânea desse espaço será de cerca de 50 pessoas.

 

 

Realização

A iniciativa faz parte do programa Modernismo Hoje, criado pelo Governo de São Paulo para celebrar o centenário da Semana de 1922. “Cem anos modernos completa o circuito de exposições que produzimos, com muita dedicação e atenção à multiplicidade de olhares, sobre a Semana de Arte Moderna. No MIS Experience, o público pode conferir a megaexposição Portinari para todos, a maior já feita em homenagem a Candido Portinari. Já o Paço das Artes está em cartaz com a mostra Modernismo desde aqui, que busca trazer uma leitura descolonizante da cultura e das artes no Brasil”, afirma Marcos Mendonça, diretor geral da ACCIM – Associação Cultural Ciccillo Matarazzo, que gere o MIS, o MIS Experience e o Paço das Artes.

A programação é uma realização do Governo Federal, Ministério do Turismo, Secretaria Especial da Cultura, Governo do Estado de São Paulo, por meio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa de São Paulo. Conta com patrocínio do Bradesco, Sabesp, Vivo, EMAE e Comolatti e apoio institucional da Kapitalo, Bain&Company, TozziniFreire Advogados, Shimano e PWC por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura.

SERVIÇO

Exposição: Cem Anos Modernos

Local: Museu da Imagem e do Som (MIS) – Av. Europa, 158, Jd. Europa – São Paulo/SP

Abertura: 02/06/2022, das 15h às 17h com permanência até às 18h

Funcionamento: 03/06/2022 até 28/08/2022, de terça a domingo, das 11h às 19h com permanência até às 20h.

Ingressos: R$ 30,00 (inteira) R$ 15,00 (meia-entrada). Gratuito às terças-feiras.

SOBRE O MIS

O Museu da Imagem e do Som de São Paulo, instituição da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do Estado de São Paulo, foi inaugurado em 1970. Sua coleção possui mais de 200 mil itens, como fotografias, filmes, vídeos e cartazes. Hoje é um dos mais movimentados centros culturais da cidade de São Paulo. Além de grandes exposições nacionais e internacionais, oferece grande variedade de programas culturais, com eventos em todas as áreas e para todos os públicos: cinema, dança, música, vídeo e fotografia estão presentes na vida diária do Museu.

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