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ENTREVISTA – Semana da Mulher – Elizabeth Del Grande

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Foto: Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo

Elizabeth Del Grande

“Se um homem mata um leão por dia, a gente tem que matar três”

Elizabeth Del Grande é percussionista da OSESP – Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo

A primeira vez que se interessou por percussão, Elizabeth Del Grande tinha cinco anos de idade. Paulista, nessa época teve que se mudar para o Rio Grande do Sul por conta da profissão do pai. Em Bagé, próximo da casa onde morava, acompanhava os desfiles cívicos de um colégio de padres Arquidiocesanos e foi então que o interesse pela percussão despertou: ganhou, então, um tamborzinho de brinquedo do pai.

Em 1961, aos sete anos, Elizabeth voltou à capital paulista. Aos nove anos começou a tocar bateria e… foi um estouro. Autodidata, ela chamava a atenção por tocar “tão bem quanto um homem”, o que era realmente algo de se admirar, já que na época bateria era um instrumento considerado masculino.

Foi no antigo teatro Paramount (hoje Renault) que ela fez sua estreia. Na época, o
teatro ela conhecido como “templo da Bossa” e não demorou muito para Walter Silva, disc jockey, levar a menina prodígio para seu programa Bo64, no teatro.

“Walter lançou músicos como Chico Buarque, Milton Nascimento, e eu fui num desses espetáculos que eles faziam às segundas-feiras. O primeiro pianista com quem toquei foi Amilson Godoy, irmão do Amilton, pianista do Zimbo Trio. Toquei com ele no Bossa Jazz Trio. Aí comecei a ter contato com esse pessoal todo e gravava programas. Fiz o Fino da Bossa, que era apresentado pela Elis Regina. Mas isso tudo ainda era um
hobbie, eu não tinha a intenção de trabalhar com música”, conta.

Tanta atenção e sucesso trouxeram também alguns problemas para Beth. “Não foi só o fato de ser mulher, mas ser muito nova. O pessoal dizia que, apesar de ser criança,
tocava como gente grande e isso fez com que eu fosse convidada a fazer duelo com
outros bateristas. Eu não tinha ensino formal de música, e percebia que algumas pessoas tentavam me segurar. Como eu não tinha uma banda, para tocar com os artistas, os bateristas deveriam ceder seu lugar. Não demorou muito para eles começarem a se recusar em fazer isso. Foi aí que meu pai mandou eu parar. Ele disse, se quiser seguir carreira, segue, mas vai estudar”.

Aos 14 anos, ela conheceu o timpanista da Sinfônica Municipal que convenceu seu pai para que ela se inscrevesse na Orquestra Jovem de São Paulo. Foi então que ela trocou as aulas de química pelas de partitura e entrou definitivamente para o mundo erudito.

“Comecei na Orquestra Jovem em 1968 e em 1969 foi criada a Escola Municipal de
Música, onde eu tive aí sim a minha formação teórica e formação de instrumentista
porque até aí eu tocava bateria de ouvido”, conta.

Sobre as dificuldades por ser mulher tocando um instrumento masculino, ela acreditava que, agora, no erudito não sofreria mais. “Muito pelo contrário, existia um preconceito até maior e não apenas dos colegas, mas até de alguns maestros. De você não chegar em um determinado posto, mesmo tocando tão bem quanto seu colega, apenas pelo fato de ser mulher”.

Hoje, chefe de naipe da percussão da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, Elizabeth não tem que provar nada para ninguém. Ou tem? “Na orquestra não, todos são super respeitosos. Mas, fora, você sempre acaba ouvindo certos comentários. A mulher, se é muito namoradeira, é um problema. E se não é, também é um problema, taxam de homossexual. Se eu fosse, assumiria tranquilamente, mas não sou. Isso nunca ninguém falou diretamente, mas você percebe. Eu optei por ficar solteira, eu tenho um relacionamento com a minha carreira. Os homens não são caracterizados por isso, mas as mulheres sim. Ninguém pode aceitar que essa é a sua opção e
acabou”.

No Dia Internacional da Mulher, Beth pondera que sim, as mulheres tiveram muitas conquistas, mas ainda não estamos isentos dos preconceitos. “Se um homem mata um leão por dia, a gente tem que matar três. Temos o tempo todo de provar que somos capazes”, finaliza.

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