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Para sempre Clarice

Foto: Maureen Bisilliat/Acervo-IMS

Uma das maiores autoras da língua portuguesa, grande inovadora da literatura nacional, criadora de uma escrita própria. Cem anos depois do nascimento de Clarice Lispector, a obra da escritora segue impassível.

Como entender que as palavras são como iscas, para compreender a não-palavra? Esse é um dos pensamentos que refletem a genialidade de Clarice Lispector, que completaria 100 anos hoje, 10 de dezembro. A escritora, que começou como jornalista, sempre afirmou que não seguia um gênero literário específico, trazendo para suas obras um jeito único de contar a história e tecer os diálogos entre os personagens.

Além da representatividade da autora, as obras trazem um tipo de escrita bastante característica e dão aos livros uma característica que só Clarice tinha. “Ela mudava a voz, o jeito de escrever… Ela era muito singular, com um modo muito específico para abordar a realidade de personagens femininas. O modo intimista e construção da narrativa tinham uma perspectiva pessoal. Como se estivesse construindo a realidade, participando, acontecendo. Não é uma realidade dada, é uma realidade construída”, diz Reynaldo Damazio, coordenador do Centro de Apoio ao Escritor da Casa das Rosas.
O crítico literário Manuel da Costa Pinto afirma que Clarice Lispector está entre os grandes escritores inovadores da literatura nacional, ao lado de Machado de Assis e Guimarães Rosa. Mas foi Clarice quem consolidou o romance modernista. “Com aquela sondagem interior dos seus personagens, com uma linguagem que interroga o tempo todo a sua própria narrativa”, diz Manuel.
As obras de Clarice Lispector não são utilizadas apenas em aulas sobre literatura. Ela também é referência nos cursos sobre escrita criativa. “Clarice utilizava a linguagem como laboratório, se permitindo experimentar, e por isso foi inovadora na sua forma de escrever. Aqui nas oficinas da Casa das Rosas, conversamos com os alunos sobre como aprendemos muito enquanto lemos outros autores. O que está no dicionário não é literatura, a literatura é levar o leitor para outro lugar”, afirma Reynaldo Damazio.

“Ela é uma espécie de ponte entre a literatura brasileira e as maiores realizações da literatura no século 20, que dão a dimensão do lugar que ela ocupa no nosso cenário cultural e literário”, diz Manuel da Costa Pinto.
E caso fosse dada a eles a oportunidade de tomar um café com a escritora de renome internacional? Costa Pinto falaria sobre a morte. “Eu debateria com ela sobre como a perspectiva da morte pode organizar a nossa vida. É inevitável compreender a condição de vida e morte e a literatura de Clarice explica muito bem isso.”

Já Reynaldo Damazio se aproximaria para falar sobre os bastidores da escrita, para tentar entender seus processos. “Falaria principalmente sobre o livro Água Viva, que eu acho muito bonito, e que trata da nossa necessidade de construir uma narrativa que não seja um mero retrato da realidade, mas que seja uma forma de reconstrução da realidade.”

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