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A “cara” do Revelando: participantes revelam tradições e histórias no festival

Dona Lúcia, de Cruzeiro: “Não tem como mudar a história, porque a história não muda”

Foi por causa do Revelando São Paulo que a dona Lúcia, de 64 anos, se “especializou” na produção do arroz vermelho com suã, comida típica de Cruzeiro. Em uma das primeiras edições do festival, há 20 anos, foi quando a culinarista ouviu falar do prato e começou a sua pesquisa para aprender a iguaria.

“O suã é a coluna do porco. Eu e minha amiga fomos atrás dos mais velhos, perguntamos como que fazia. Aí um contava uma versão, outro contava outra e foi enriquecendo”, explica.

Diz a história que o prato é uma herança dos tropeiros, que no Brasil colonial faziam o comércio entre o sul e sudeste. “Quando eles passavam na região, eles iam em uma fazendinha que tinha na época que plantava esse arroz e iam comer essa comida, porque ela dá sustância. E é verdade, se você almoçar o arroz vermelho, você não janta”.

Produção local

Todos os ingredientes que dona Lúcia utiliza no preparo do arroz vermelho com suã são adquiridos de produtores locais. “O produto tem mais qualidade, dura mais e não tem veneno”, diz.

A primeira vez que dona Lúcia preparou o prato foi para a família. “Fizemos do jeitinho que a história conta, acompanhado de mandioca, couve e torresmo”. O próximo passo foi levar o arroz com suã para o Revelando. E o sucesso foi tanto que, quem for a Cruzeiro hoje, pode provar a iguaria aos domingos, no Bosque Municipal. 

Dona Irene – Paraíbuna: “Eu amo fazer bolinho de chuva. E eu acho que uma pitadinha de amor acrescenta sabor”

A família de Irene Fernandes Neves veio de Minas Gerais para São Paulo, em Paraíbuna, onde ela nasceu, há 62 anos. Original da roça, dona Irene é muito ligada às tradições passadas da avó para a mãe e, por fim, para ela. E, a principal delas, a arte de fazer bolinho de chuva.

“As pessoas que trabalhavam na roça, quando voltavam cansadas para casa no final do dia, o que elas podiam fazer para comer? Tinha que ser uma coisa prática, rápida. E, principalmente, quando chegava na época da chuva, parecia que pedia o bolinho de chuva”, conta.

Dona Irene cresceu, casou e, quando tinha 32 anos, se mudou para a cidade. A tradição permaneceu e ela continuou fazendo o doce para a família, amigos, vizinhos. E, apesar de afirmar que sua receita não leva nenhum ingrediente secreto, seus bolinhos fizeram tanto sucesso que logo ela foi convidada para participar de feiras regionais do Vale do Paraíba. “Eu amo fazer bolinho de chuva e eu acho que uma pitadinha de amor acrescenta sabor”.

Foi por causa de seu bolinho, servido com café torrado, socado no pilão, coado no coador de pano e servido na canequinha de ágata que ela foi convidada para participar da primeira edição do Revelando São Paulo, representando a região, em 1997. “Mesmo morando na cidade, eu não perdi o jeito da roça. Eu uso todas as minhas panelas de ferro, minha chaleira de ágata. Você vai ver quando a gente estiver em São Paulo! Eu e meu marido conservamos tudo porque sempre soubemos que um dia nós iríamos usar. E nós usamos. Eu levo para todas as edições do Revelando”, diz.

Kambuquira, de Guararema: “Se você for ao Revelando e não comer a minha galinhada, é como se você não tivesse ido”

Há 30 anos quando conheceu Emília, hoje sua esposa, Denílson José Ferreira, 49, se mudou de Lagoinha, no Vale do Paraíba, para Guararema. A cidade, que fica aos pés da Serra da Bocaína, possui o único centro de peregrinação brasileiro de São Longuinho, santo popular “achador” das coisas e causas perdidas. Realizado uma vez por ano, devotos de todo o Brasil vão até a cidade pagar suas promessas e graças dando pulinhos e comendo a tradicional galinhada de São Longuinho.

A relação de Denílson com a galinhada teve início há quase 13 anos. Ele, que foi dono de bar e de uma confecção de sapatos, teve um problema de saúde que o obrigou a ficar em casa. Foi aí que Kambuquira, como é conhecido, se interessou pelo prato típico. “Quando eu tive esse problema de saúde tive que ficar em casa de repouso. Para não ficar parado, eu fui até o restaurante de um amigo para aprender a fazer o prato. Falei com a minha esposa e começamos a fazer em casa”, conta Kambuquira.

Aprovada pela família e amigos, a galinhada fez tanto sucesso que o casal abriu um restaurante. Além do carro chefe, eles fazem também a paella caipira.

“A galinhada é uma só, mas cada um faz do seu jeito. Na minha receita eu uso só a sobrecoxa, sem pele para não ficar com muita gordura. A primeira parte é cozinhar o frango e tudo é feito no carvão, para ficar com aquele gostinho de feito no fogão à lenha. A gente usa a paellera aí vai azeite, cebola, tomate, pimentão e alho. Colocamos um tempero nosso caseiro que vai salsinha e cebolinha. Coloco a sobrecoxa sem pele e vai mais açafrão e coloral para dar aquela corzinha bonita. Aí já acrescenta o arroz e parmesão ralado. Por último faço a decoração”, explica.

O sucesso foi tanto que Denílson foi convidado a representar Guararema e levar sua galinhada para o Revelando São Paulo. “Todo mundo que fala em galinhada em Guararema fala que a minha é a melhor que tem. Se você for ao Revelando e não comer a minha galinhada, é como se você não tivesse ido”, se orgulha.

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